Os efeitos psicológicos da violência

 Por Mauro Felix


A estrutura da sociedade contemporânea reflete uma notável competitividade na busca pelas melhores posições, estabelecendo, de certa forma, uma normatização que remete à "lei do mais forte". Nesse cenário, a disputa pela superioridade, nas ideias, nos bens, na profissão, nos estudos e até mesmo no papel paterno e materno, institui o que chamamos de uma cultura da violência, um fenômeno que não se limita apenas à exposição direta a atos violentos, mas também à sua normalização e aceitação social indireta, que é manifestada em filmes, programas de TV, reality show, políticos, autoridades públicas, dentre outros, que contribuem para a formação de uma mentalidade que muitas vezes perpetua o ciclo da agressão.

 


Nas sociedades em que a agressividade é valorizada, indivíduos podem sentir uma pressão social para adotar comportamentos mais hostis e assertivos para se enquadrarem nos padrões estabelecidos. Isso pode resultar em conflitos internos, onde a busca por aceitação social colide com valores pessoais, gerando um conflito psicológico que afeta a autoimagem e a autenticidade do indivíduo, influenciando na formação da identidade e autoestima.

 


Em sociedades onde a violência é glorificada, seja na mídia, na política ou em outros aspectos da cultura, as consequências mentais podem ser devastadoras, exercendo um impacto profundo nos indivíduos e gerando efeitos psíquicos que permeiam diversos aspectos de sua vida. A constante exposição a imagens e narrativas violentas pode levar à dessensibilização, onde as pessoas perdem a sensibilidade e empatia diante do sofrimento alheio. Esse processo pode criar uma mentalidade mais tolerante à agressão, normalizando comportamentos que, em outras circunstâncias, seriam considerados inaceitáveis.

 


Além disso, a prática contribui para o desenvolvimento de altos níveis de estresse e ansiedade na sociedade. O medo constante de se tornar vítima de agressão, roubo ou outra ação de risco gera um estado de alerta contínuo, impactando negativamente a saúde mental. A insegurança generalizada pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos, prejudicando a qualidade de vida e o bem-estar emocional das pessoas.

 


Entre outros problemas, as ações violentas podem contribuir para a criação de ciclos intergeracionais de comportamento agressivo. Crianças que crescem em ambientes hostis têm maior probabilidade de reproduzir esses padrões de comportamento na vida adulta, perpetuando esse hábito de uma geração para outra.

 


Diante desses desafios é crucial promover uma cultura de paz buscando reduzir a glorificação da violência na sociedade. Intervenções que visam transformar a mentalidade coletiva e promover a resolução pacífica de conflitos são essenciais para mitigar os efeitos psicológicos negativos associados a ambientes hostis. Além disso, investir em educação e na criação de comunidades mais solidárias pode desempenhar um papel fundamental na construção de sociedades mais saudáveis, pautadas na ideia de que somos coparticipantes de um mesmo mundo, em uma mesma época, onde o convívio, nesse contexto, se apresenta como o convite essencial para a construção de uma sociedade não violenta.



*Mauro Felix é coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.


*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.

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